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Bruno Brunelli

Luzia Pinta



Luzia Pinta caía em transe ao som de tambores e descobria se a pessoa doente na sua frente estava enfeitiçada. Receitava bebidas e ervas para curar o problema, em nome de Nossa Senhora, e era devotada a Santo Antônio. A dona do calundu famoso de Sabará, era conhecida na cidade. E foi por isso encontrada pela Inquisição durante uma visitação em Minas Gerais, que na época chamava a atenção da metrópole porque de lá saía o ouro do Brasil.


A mulher trazida como escravizada de Angola vivia há pelo menos 30 anos em Minas quando foi presa pela Inquisição, em 16 de março de 1742. Levada para Lisboa, foi processada e torturada. Para o juiz que tocou seu processo, o calundu era uma obra diabólica. O transe, que Luzia jurava ser um dom divino, só poderia existir, na visão do tribunal, por meio de um pacto demoníaco. Mesmo que ela se dissesse batizada e soubesse rezar as orações católicas, ninguém concordou que ela era católica. Para os juízes e padres, ela era uma feiticeira.


E assim ela foi julgada publicamente em um Auto de Fé, que eram grandes cerimônias públicas em Lisboa. Nesse dia ela foi sentenciada ao degredo, que era a punição por extradição, e mandada para viver nas ilhas dos Açores.


Luzia e seu calundu são considerados os grandes ancestrais das religiosidades de matriz africana. O ritual que unia a cultura religiosa dos povos bantu com o sincretismo católico é uma primeira manifestação do que hoje conhecemos como Umbanda. E de alguns anos para cá, a sua memória tem sido revista e celebrada como uma das primeiras mães-de-santo.



__Referências:

- “O Diabo e a Terra de Santa Cruz”, livro de Laura de Mello e Souza

- “Luzia Pinta: Experiências Religiosas Centro-Africanas e Inquisição no Século XVIII”, artigo de Robert Daibert Jr

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