João Batista e o Mandaeísmo
- Bruno Brunelli
- 6 de ago.
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O Mandaeísmo, também conhecido como Nasoreanismo ou Sabianismo, é uma antiga religião gnóstica que ainda existe hoje, principalmente entre comunidades no sul do Iraque e no Irã. Seus seguidores, chamados mandaeanos, têm uma visão religiosa distinta, na qual João Batista é considerado o maior e último profeta enviado por Deus, enquanto Jesus Cristo é visto como um impostor que corrompeu os verdadeiros ensinamentos.
__Cosmovisão
No centro da crença mandaeana está um dualismo cosmológico, que opõe o mundo espiritual puro, governado pelo Deus supremo Hayyi Rabbi (a "Grande Vida"), ao mundo material, visto como corrompido por forças das trevas. Eles acreditam que a luz divina está presa nas almas humanas, e a libertação só é possível através do conhecimento espiritual (gnose) e de rituais de purificação, especialmente o batismo (masbuta), realizado em águas correntes como rios.
Eles tem também os Uthras. Análogos a "anjos" ou "aeons" gnósticos, os Uthras são entidades divinas que servem como mediadores entre Hayyi Rabbi e o mundo material.
Entre os principais estão:
Hibil (Abel): Responsável pelo submundo e pela luta contra as trevas.
Shitil (Seth): Associado à pureza e à transmissão do conhecimento sagrado.
Anush (Enosh): Guardião das almas e guia espiritual.
Manda d-Hayyi ("Conhecimento da Vida"): Figura central que revela a gnose aos humanos.
Ptahil (O Demiurgo), é uma figura ambígua que criou o mundo material a pedido dos Uthras, mas acabou corrompido por suas próprias limitações. Não é maléfico por natureza, mas sua criação imperfeita permite a existência do sofrimento. Comparável ao Demiurgo do gnosticismo cristão.
Ruha d-Qudsha (Espírito do Mal), representa a contraparte das trevas, uma entidade que engana as almas e as prende no mundo material. Não é um "diabo" no sentido cristão, mas um princípio de ignorância e ilusão que se opõe à luz.
__Ritos
Os mandaeanos praticam o batismo não como um evento único, mas como um ritual regular de limpeza espiritual, realizado com vestes brancas, orações e imersões. Além disso, possuem ritos funerários elaborados, pois acreditam que a alma precisa de auxílio para ascender ao mundo da luz após a morte. Suas práticas incluem também proibições alimentares e sociais, como evitar carne, álcool e casamentos fora da comunidade, para manter a pureza religiosa.
Suas escrituras sagradas incluem o Ginza Rabba ("O Grande Tesouro"), um livro dividido em seções sobre cosmologia, ética e ensinamentos; o Livro de João (Draša d-Yahia), que contém narrativas sobre João Batista; e o Qolusta, uma coletânea de hinos e orações usadas em rituais.
__Surgimento
Historicamente, o Mandaeísmo surgiu entre os séculos I e II d.C., possivelmente como um grupo dissidente do judaísmo ou do cristianismo primitivo. Ao longo dos séculos, os mandaeanos enfrentaram perseguições de muçulmanos, cristãos e outros grupos, o que os levou a viver em comunidades isoladas. Hoje, estima-se que existam entre 50.000 e 100.000 mandaeanos no mundo, muitos deles vivendo como refugiados devido a conflitos no Oriente Médio.
Uma das principais diferenças entre o Mandaeísmo e o Cristianismo é a rejeição da crucificação e ressurreição de Jesus, bem como a não aceitação do Novo Testamento. Enquanto o cristianismo vê o batismo como um evento único, os mandaeanos o praticam repetidamente como parte de sua busca pela purificação.
Atualmente, a comunidade mandaeana enfrenta o risco de extinção cultural devido à migração forçada e à assimilação em outras religiões. Muitos mandaeanos buscam reconhecimento como minoria religiosa em países ocidentais, na esperança de preservar sua fé e tradições para as futuras gerações.






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