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Exu te ama?

  • Bruno Brunelli
  • 12 de ago.
  • 2 min de leitura

Alguns pensamentos sobre como o discurso neopentecostal está chegando na Umbanda...


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A gente já sabe como as igrejas neopentecostais se apropriam da linguagem da Umbanda e das religiosidades afro na forma de falar e nas manifestações do Espírito Santo, por exemplo. E até mesmo em como o Diabo, para eles, virou totalmente a figura dos nossos exus catiços, nos trejeitos de incorporação, na fala e nos nomes.

Mas e o contrário? Está na hora de começarmos a pensar como a Umbanda tem incorporado o discurso das religiões neopentecostais. Como influenciadores e sacerdotes que falam que Exu e Pombagira vão te fazer vencer na vida, mas naquela ideia de que vencer na vida é ser rico, causar inveja nos outros e que eles vão destruir seus inimigos (afinal o errado é sempre o outro).


__ Viver bem x vencer na vida

A Umbanda é uma religião que busca pela manutenção de uma boa vida. Por isso é normal que a gente peça a ajuda dos nossos guias e ancestrais nos momentos difíceis, inclusive com dinheiro, já que todo mundo precisa de dinheiro para ter uma boa vida. 

O que a gente vê muito nas redes sociais é o exato discurso da teologia da prosperidade neopentecostal, só que em vez de Jesus Cristo, é Exu: se eu der tudo para Exu e Pombagira, se eu fizer Exu aparecer para mil pessoas e pregar a palavra, eu vou "vencer na vida". 


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Essa ideia da teologia da prosperidade está em muita coisa hoje: nas igrejas, no discurso dos coaches, nas propagandas das bets, no discurso de vários políticos. E está perigosamente chegando na Umbanda e influenciando muita gente. "Umbandaaa é paz e amor, é um mundo cheio de luz <3"


__ Racismo e embraquecimento

Além disso, a gente vê uma repaginação do mesmo projeto racista que já existia lá nos primeiros congressos de Umbanda da década de 1950. Os pastores neopentecostais odeiam tudo que é brasileiro, popular e de origem indígena e negra - como festa junina, carnaval, macumba. Absorvendo esse mesmo discurso, a gente também vai perdendo essas marcas e embranquecendo cada vez mais a religião para que ela se encaixe nesse novo padrão.

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E é assim que os terreiros vão ficando com cara de igreja, os Exus e Pombagiras deixam de ser o povo da rua para virarem os guardiões que trazem prosperidade. A gente vai fazendo justamente o jogo que o opressor quer que a gente faça: ficando cada vez mais com a cara deles, se preocupando só com o consumo, e deixando de lado a manutenção do nosso axé.


__ Indicação de leitura sobre a apropriação da Umbanda pelos neopentecostais:

Exu: um Deus Afro-atlântico no Brasil - Vagner Gonçalves da Silva (Edusp)

 
 
 

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