Rei do Candomblé, Rei Negro, Tata Londirá. João Alves Torres Filho teve muitos nomes, mas hoje nos lembramos dele como Joãozinho da Gomeia, um sacerdote ousado e polêmico, que se destacou entre os anos 1950 e 1960.
Foi iniciada com 18 anos, por Jubiabá, um famoso sacerdote baiano que foi até personagem de Jorge Amado. Nessa época, sua feitura foi no Candomblé Angola, que era criticado de não ser puro como outras nações por cultuara caboclos. Tempos depois, já nos anos 1950, passou por um rito com Mãe Menininha do Gantois, desta vez no Candomblé Ketu. Por isso, dizem que era devoto tanto de Mutalambô (inquice da nação Angola) quanto de Oxóssi (orixá da nação Ketu). E sempre do caboclo Pedra Preta, que lhe acompanhou por toda a vida.
Na Bahia, assumiu a chefia do Terreiro da Rua da Ladeira e depois fundou o Terreiro da Gomeia. Tentou se mudar para o Rio no começo de 1940, mas acabou sendo perseguido pelo Estado Novo, ditadura comandada por Getúlio Vargas - uma época muito difícil para o povo de santo. Mas quando a perseguição melhorou, retornou para a então capital do país e fundou o Terreiro da Gomeia, em Duque de Caxias.
Além de sacerdote, era também dançarino e coreógrafo. Seu estilo foi inspirado nas danças afro-brasileiras e representava o movimento dos orixás. João trabalhou em espetáculos de teatro, escolas de samba e no famoso Cassino da Urca. Sua entrada no meio artístico lhe rendeu amizades com jornalistas e com grandes cantoras da Era de Ouro do Rádio. Abertamente homossexual, fã de Carnaval e dançarino profissional, teve um papel importante para desmistificar os terreiros e também desafiar os papeis e costumes da sua época.
Ele faleceu em 1971, com complicações de um tumor no cérebro, deixando mais de 4 mil filhos iniciados em 5 países. O Terreiro da Gomeia no Rio de Janeiro foi reconhecido como patrimônio histórico agora em 2021. Sua vida foi homenageada no samba-enredo da Grande Rio @granderio no Carnaval de 2020: "Tatalondirá: O Canto do Caboclo No Quilombo de Caxias".
__Referências: historiadores André Leonardo Chevitarese e Rodrigo Pereira.
Comments